Econômia
Fintechs e bancos tradicionais brasileiros investem forte no México
Segundo informações da revista Valor Econômico, fintechs brasileiras e bancos tradicionais estão apostando na expansão para o México, a segunda maior economia da América Latina. O país é um destino atraente não apenas pelo tamanho do mercado, mas também por outros fatores estratégicos.
O México tem se beneficiado do “nearshoring” dos EUA, que realoca cadeias produtivas para mais perto dos mercados consumidores. Além disso, a agenda regulatória do setor financeiro está avançando, e a população ainda é bastante desbancarizada, oferecendo um enorme potencial de crescimento. O uso forte de dinheiro físico por questões culturais apresenta desafios, mas também abre oportunidades.
O Nubank, que solicitou licença bancária no México no ano passado, destacou a expansão no país como prioridade para 2024. O Mercado Pago, apesar de ser argentino, também solicitou licença bancária em maio e vê o mercado mexicano como uma importante frente de crescimento. O Bradesco ampliou sua operação de cartões no México em 2022 com a compra de uma financeira mexicana, aprovada em fevereiro deste ano.
De acordo com um relatório da Finnovista e Visa, o México tinha 773 fintechs locais no final do ano passado, em comparação com 394 em 2019. Além disso, havia 217 fintechs estrangeiras, principalmente dos EUA, Chile, Colômbia e Argentina. As startups locais atuam principalmente em empréstimos, pagamentos e remessas, e tecnologia para instituições financeiras, com cerca de 60% focadas no mercado B2B.
Um levantamento do Bank of America mostrou que o México tem aproximadamente 19 milhões de usuários ativos de neobancos, cerca de 15% da população, similar ao Brasil em 2018. No Brasil, esse percentual subiu para cerca de 80% em 2021.
Apesar das semelhanças entre os cenários brasileiro e mexicano, os analistas do BofA destacam que há diferenças relevantes, como o ritmo mais lento de crescimento das fintechs no México e maior concentração de mercado. Mercado Pago e Nubank representam juntos cerca de 60% dos usuários, seguidos por PayPal, Spin e Hey Banco.
O México representa uma “oportunidade quase perfeita” para fintechs e bancos brasileiros que buscam internacionalização, segundo Daniela Dutra, líder de soluções para bancos da Capgemini. A combinação de estabilidade econômica, baixa bancarização e abertura recente do sistema financeiro reflete em pouca concorrência global, apesar de desafios como a compreensão do comportamento do consumidor e a falta de histórico de crédito.
Em entrevista ao Valor Econômico, Cristina Junqueira, cofundadora e diretora de crescimento do Nubank, destacou que o México tem um PIB per capita cerca de 30% maior que o do Brasil e baixa inclusão financeira, representando um grande potencial de transformação. O Nubank já investiu mais de US$ 1,4 bilhão no México e alcançou 7 milhões de clientes.
O vice-presidente sênior do Mercado Pago, André Chaves, afirmou que a experiência da companhia no e-commerce oferece um diferencial no México, onde a grande concorrência é o dinheiro em espécie. O diretor de vendas da Capgemini Brasil, Daniel Berman, destacou que o processo de inovação no segmento financeiro é mais lento no México, com desafios de acesso a capital e financiamento.
O marco regulatório das fintechs no México, implementado em 2018, é considerado um avanço, mas ainda precisa de detalhamentos. Segundo Brunno Morette, sócio em direito societário e aquisições no Cascione Advogados, as atividades permitidas ainda não são tão amplas e faltam regulamentações específicas, mas o Banco Central do México e a Comissão Nacional Bancária e de Valores estão acompanhando o tema e são esperadas inovações.
Entre as brasileiras interessadas no México está a Dock, que comprou a Cacao em 2021. Anderson Olivares, gerente geral para a América Latina da Dock, afirmou que há sinergia entre as atuações no Brasil e no México, apesar das diferenças regulatórias.
Bancos tradicionais como Bradesco e fintechs locais como Clip também estão atentos ao mercado mexicano. Alexandre Monteiro, diretor da Bradescard México, e Carolina Fera, vice-presidente de serviços financeiros da Clip, destacam o crescimento do mercado e a importância de adaptar estratégias para atender à realidade local.
A mudança cultural no mercado financeiro mexicano, impulsionada por jovens que preferem contas digitais, sinaliza um futuro promissor para a expansão das fintechs e bancos brasileiros no país.
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