Brasil
Ronda Maria da Penha atende 492 vítimas na capital baiana
A empresária Clara Martins, 41 anos, está em uma casa de acolhimento e sob medida protetiva depois de ter sido agredida física, sexualmente, e psicologicamente pelo parceiro, que também provocou abuso patrimonial. No primeiro semestre deste ano, a Ronda Maria da Penha já recebeu 182 medidas protetivas das varas de Violência Doméstica e Familiar de Salvador. Atualmente, 492 mulheres são atendidas pelo serviço na capital baiana.
O serviço, fruto da articulação da Secretaria de Políticas para Mulheres junto a Secretaria de Segurança Pública da Bahia, tem como atividade principal a realização de visitas diárias de acompanhamento das vítima que tiveram a medida protetiva de urgência deferida pela Justiça. “Fazemos visitas com certa frequência, dependendo do grau de risco em que elas podem estar. Todos os dias estamos na área protegendo essas mulheres”, garante major Tereza Raquel, comandante da Ronda Maria da Penha. Sobre quantidade de medidas na Bahia, nos últimos dois anos, o Tribunal de Justiça da Bahia não respondeu até o fechamento desta edição.
Clara tem 41 anos e relata que sobreviveu aos abusos físico, psicológico, patrimonial e sexual feitos pelo namorado, que conheceu em um aplicativo de relacionamentos durante a pandemia, por quase 1 ano e meio. “Ele se mostrou um homem culto, educado, viajado, era empresário e havia tido outros relacionamentos. Só alegava ter depressão porque as ex-mulheres o afastava dos filhos. Ninguém diria que eu viveria um pesadelo”.
Mais agressões
“Quando ele começou a frequentar minha casa, iniciaram as atitudes violentas. Andava armado, me ameaçava, interferia nas minhas decisões, me afastava da minha família, me violentava e torturava. Fez dívidas em meu nome. Hoje, só tenho uma máquina de lavar roupas e um fogão. Perdi minhas empresas. Eu não via mais perspectiva de futuro. Era uma escrava”.
Depois de uma noite de agressões, Clara fugiu do cárcere e começou a gritar por ajuda no corredor do prédio e um vizinho acionou o 190. Hoje, ela está em um lugar sigiloso sob proteção, enquanto espera o julgamento do agressor. “A violência afeta todas as mulheres, independente da classe social. É preciso ficar atento, perceber os sinais, e não ter medo de denunciar. As pessoas até acharam estranho isso acontecer comigo, mas pode acontecer com qualquer uma”.
O historiador Dudu Ribeiro, cofundador da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas e coordenador da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia, concorda com Clara, mas ressalta a importância de apontar que mulheres negras e pobres continuam sendo as vítimas mais frequentes de agressão. “É importante a gente pensar que a violência contra a mulher é um resultado das relações patriarcais que baseiam a nossa sociedade. Obviamente, isso vai atingir todas as mulheres, mas é interseccionada por outros cruzamentos, que provocam níveis diferentes de violência e atingem, sobretudo, mulheres negras e pobres”.
Reprodução: Portal A tarde
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